Alguns setores apresentam bom desempenho em meio à crise econômica

Os indicadores econômicos não são animadores para o Brasil. O desemprego chegou a 6,4% em abril (maior índice desde março de 2011) e a produção industrial em janeiro e fevereiro deste ano sofreu queda de 7,1% em relação ao mesmo período de 2014. Para economistas do mercado financeiro, a previsão é de que a inflação atinja em 2015 o seu maior patamar desde 2003. Sobre o Produto Interno Bruto (PIB), economistas apostam em retração de 1,27%. Se confirmado, será o pior resultado desde 1990, quando houve queda de 4,35%.

No entanto, há setores obtendo bons resultados, com faturamento crescente e manutenção de investimentos e contratações. É o caso dos supermercados e das drogarias, que projetam para 2015 um crescimento semelhante ao do ano passado. O objetivo destes estabelecimentos é expandir o número de lojas e deslocar o consumo de bens duráveis para o de bens essenciais vendidos por eles. Ou seja, com a economia em baixa, o consumidor não consegue trocar o carro, mas não pode deixar de comprar medicamentos e produtos de beleza.

Em 2014, o faturamento das vendas de itens de cosméticos, higiene pessoal e perfumaria superou os 100 bilhões de reais no Brasil. Por exemplo, a receita líquida da Natura, multinacional brasileiro do setor, cresceu 5,7% em 2014. Em geral, o faturamento do setor avançou 1,9% no Brasil. Se por um lado, há quem entenda que o setor só será atingido pela atual crise econômica caso aconteça desemprego em massa no país; por outro, economistas dizem que segmentos muito ligados à renda disponível dificilmente não sentirão neste ano a redução do poder de compra dos brasileiros, mesmo que ocorra de forma mais amena.

De acordo com o instituto de pesquisa Data Popular, 42% dos trabalhadores da classe C já fazem “bico” para complementar a renda. O dado pode representar algum fôlego para quem comercializa bens essenciais, mas indica determinada deterioração do mercado de trabalho. O primeiro impacto da retração da renda no consumo de bens essenciais é a migração de produtos mais caros para os mais baratos. Por ora, isso ainda não foi observado nos supermercados e nas drogarias. A principal preocupação das farmácias é a variação cambial e como será o impacto no custo das matérias-primas dos medicamentos, por exemplo – por serem quase todas importadas. Com preços regulados, o governo federal concedeu reajustes abaixo da inflação à indústria farmacêutica, o que reduzirá, provavelmente, a margem de negociação de descontos de produtos ao varejo.

 

Em 2014, o faturamento dos supermercados cresceu 1,8%. Nos primeiros dois meses de 2015, o faturamento foi 1,93% maior do que em relação a janeiro e fevereiro do ano passado. A previsão é de que o setor cresça 2% neste ano. Como as farmácias, os supermercados também se preocupam com a inflação dos produtos, que pode reduzir o poder de compra dos brasileiros. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), a cesta de 35 produtos de maior consumo subiu 5,64% em janeiro de 2015 em relação a janeiro de 2014.

No setor de serviços, as empresas de cartão de crédito não sentem impactos da crise. Há uma década o setor mostra crescimento acima de dois dígitos: em 2014, o mercado de cartões movimentou 979 bilhões – ou 14,8% acima do que foi registrado em 2013. Para 2015, as empresas projetam aumentar transações em 12,5%, pois elas acreditam que exista muito espaço para crescer mesmo em tempos de crise econômica. O índice de inadimplência, que poderia elevar em consequência da redução da renda do brasileiro, se mantém no patamar de 7% desde 2013. Mas o questionamento que especialistas fazem é: se a crise se prolongar, estes setores continuarão a apresentar esse bom desempenho?