Uma questão de segurança

Infelizmente, casos sobre problemas com produtos químicos não faltam, nem no Brasil e muito menos país afora. Um caso emblemático foi o ocorrido na empresa Union Carbide, em Bhopal, na Índia, há 30 anos, onde três mil pessoas morreram asfixiadas por uma nuvem de gás, além de milhares de outras nos dias subsequentes, totalizando cerca de 20 mil mortes e mais de 150 mil pessoas afetadas, inclusive mulheres gerando filhos com má formação fetal.

Naquele mesmo ano, 1984, dois outros acidentes - na Vila Socó, em Cubatão/SP, e na Cidade do México – fizeram com que a Organização Internacional do Trabalho – OIT criasse a Convenção 174, que trata da prevenção de acidentes industriais maiores, ou ampliados.

Apesar da Convenção 174, segundo o tecnologista da Fundacentro, Fernando Sobrinho, os acidentes continuam acontecendo, mas agora já atingem as pequenas e médias empresas, de acordo com dados de 2014.

Se acidentes como o na Union Carbide, empresa grande, pretensamente fiscalizada, acontecem, a probabilidade de novos casos em empresas de menor porte é muito maior. Segundo o tecnologista aposentado da Fundacentro, José Possebon, o ocorrido em Bhopal poderia ter sido evitado, caso não tivessem acontecido vários erros, pois a empresa possuía os recursos para isso. Entretanto, vários equipamentos não estavam funcionando e outros estavam em manutenção.

A Union Carbide produzia isocianato de metila – ICM, produto este que precisa ser mantido a uma temperatura de 0º. Quando o acidente aconteceu, o equipamento de refrigeração estava em manutenção. O lavador de gases, que tinha o objetivo de neutralizar o ICM, também não estava funcionando na ocasião. E o chamado queimador de gases tinha sido desativado em razão de um trecho da tubulação ter sido retirado para conserto. Não fosse isso, a contaminação ambiental poderia ter sido evitada, pois o equipamento queimaria o ICM.

No Brasil, uma explosão na Petroquímica União em Mauá, em 1992, incentivou a mudança nos processos de segurança química, ocasionando a revisão da NR 13, sobre caldeiras, vasos de pressão e tubulações.

Por iniciativa da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), foi implantado o Programa Atuação Responsável (marca registrada da Abiquim), trazido para o Brasil em 1992 pela associação. Existente em 60 países desde 1998, o programa é obrigatório para os associados da Abiquim. 

Este tipo de iniciativa tende a reduzir as possibilidades de acidentes, mas com a mudança no perfil das ocorrências, que passaram a incluir as empresas de pequeno e médio porte, a atenção deve ser redobrada, e a fiscalização aumentada, para evitar novos acidentes, independente da sua proporção.