Carro é investimento?

Você deve ter trocado de carro nestes últimos 12 meses. Se não trocou, adquiriu seu primeiro carro ou um novo modelo. Acertei? Então agora responda sinceramente uma pergunta: das últimas vezes que trocou de carro, trocou porque precisava ou as “condições” eram favoráveis, o crédito fácil e o negócio “muito bom”?

A indústria automobilística agradece sua dedicação. Carro não é celular. Ai eu ouço: “ah Navarro, ter um carro é uma conquista inesquecível”. Deve ser, acredito. Lembrar dele todo mês, por 60 meses, deve ser mesmo emocionante. Não interessa se o carro leva você pra lá e pra cá, carro não é investimento a não ser que você seja o revendedor.

Crédito fácil é uma armadilha perigosa. Se as suaves prestações para comprar o carro de seus sonhos são a única saída para que você chegue lá, considere a possibilidade de comprar um moto. Sério. Ou considere a possibilidade de poupar, engordar seu dinheiro e negociar o valor à vista do carro. Pode demorar até que tenha o dinheiro, é verdade. E daí? É mais fácil gastar a poupar, você deve estar pensando. Pare com isso.

Deixe de lado o imediatismo e o consumismo característicos de nossa população e pense um pouquinho no quanto trabalha para ganhar seu dinheiro. Vai entregá-lo assim tão facilmente, pagando juros tão altos? Aliás, você sabe quanto de juros está pagando quando compra um carro nestas condições? De novo eu ouço: “mas Navarro, a prestação cabe no meu bolso”! Ótimo, mas isso não significa que você pode comprar o veículo. Não enquanto você não entender o que é ter um carro.

Antes de comprar o carro, você pesquisou o valor do seguro? Em quantas seguradoras? Pensou no IPVA, licenciamento e seguro obrigatório e o peso que eles terão no seu orçamento? Aqui sempre vem uma resposta interessante: “O 13º. salário é pra isso. Uso sempre pra pagar essas coisas”. Muito inteligente, não é mesmo? A chance de receber um merecido bônus vai pro espaço. Ou melhor, pro carro. Isso sem falar que você pode sair do emprego e receber menos do que esperava. E ai? Bom, o dinheiro é seu. Pense bem.

Eu faria diferente. Que tal poupar mensalmente um valor, investi-lo (usar o poder dos juros compostos) e ao final do ano ter o montante para pagar estas despesas? Sinta a satisfação de receber seu 13o. salário como algo realmente inesperado e pare de comprometer receitas não creditadas em sua conta corrente. Isso é um péssimo hábito.

Ainda tem mais. O carro é feito para rodar, andar, certo? Bom, ele vai precisar de combustível, trocas periódicas de óleo, revisões programadas (e não programadas), troca de pneus, manutenção de freios, garagem (ou estacionamento) e de manutenção mecânica. Esqueci alguma coisa? Ah sim, de vez em quando você vai levá-lo para um bom “banho”. Como já aprendemos em artigos anteriores, nada é de graça. Claro que você não se esqueceu de simular alguns destes valores antes de comprar o carro, certo? Pois é. Responda rápido: qual o custo médio da revisão de seu carro? Qual foi o valor pago na última manutenção de freios? Quanto já gastou só de lavagem com seu veículo? “Pô Navarro, não enche! Que neurose”. Chame do que quiser.

Que tal saber que depois de quatro ou cinco anos de financiamento, você terá pago quase o valor de dois carros novos e seu carro vai estar desvalorizado em quase 60%? Dito isso, alguém pode me explicar a matemática que transforma o carro em um investimento? Se você usa o carro para trabalhar, a visão é outra. Neste caso, ele deve ser considerado como um ativo. De novo, investimento não!

Aceite: carro não é pra qualquer um. Tirar o carro do concessionário é a parte mais fácil, você deve ter percebido. Eles são objetos maravilhosos até que o documento de propriedade esteja em seu nome. Calma, eu não sou nenhum “anti-poluidor”, “anti-veículos-motorizados” ou qualquer coisa do tipo. Somos iguaizinhos, acredite. Talvez eu valorize um pouquinho mais os centavos e principalmente o poder de uma simples calculadora. Só isso. Ah, eu tenho um carro, acredite se quiser.